22 março 2012

Conto


O EQUÍVOCO
Em uma noite chuvosa, uma mulher saindo de seu serviço voltava para sua casa. A chuva era torrente e violenta, quase não se enxergava pelo pára-brisa de seu carro. No caminho de volta deparou-se com uma rua completamente alagada. A mulher que sempre pegava aquele caminho preferiu arriscar-se pela rua, já que fazer outro caminho iria lhe levar muitíssimo tempo, e ela estava com muita pressa, pois seu marido já deveria estar a esperando há horas. Seguiu rua adentro, e importunamente acabou atolando o carro, as águas da rua começaram a adentrar o veículo, a mulher desesperada não avistou ninguém na rua que pudesse ajudá-la, pegou o celular para pedir ajuda e ligar para o marido, mas seu celular estava sem sinal, horas incessante de tentativa de chamar socorro fez com que a bateria de seu celular acabace. A mulher tomada por desespero, por aquela escuridão da rua, raios e trovões da tempestade, decide arriscar-se nas águas em busca de ajuda, pegou sua bolsa e partiu.
Caminhando pela águas ao longo da rua começa a avistar um ônibus, vindo em sua direção, eufórica começa a chamar pelo ônibus, para que parasse e a ajudasse. O motorista para, abre as portas, e a deixa entrar. O ônibus tinha um aspecto escuro, quase que nebuloso, um cheiro hospitalar desagradável. A mulher explica sua situação ao motorista que disse que poderia ajudá-la, ele estava levando senhoras a um manicômio, e na instituição haveria um telefone o qual ela poderia usar para pedir ajuda, ela deveria pedir que a enfermeira que estava no fundo do ônibus, que a levasse ao telefone da instituição. A mulher então aceita e seguiu viagem com o ônibus.
Ao caminhar para dentro do veículo a mulher se depara com uma cena um tanto desagradável, senhoras dopadas, babando e balbuciando coisas incompreensíveis, e no fundo do ônibus uma enfermeira de expressão nada simpática adormecida no banco. A mulher senta se na parte da frente do ônibus, segui apreensiva a viagem, mas como tomou mais tempo que poderia perceber, adormeceu sentada.
Quando o ônibus adentrava o terreno da instituição a mulher acordou e logo se preocupou, o lugar era sombrio e o clima parecia ter esfriado mais, fazendo dando-lhe dar calafrios. A instituição tinha aparência de um velho prédio abandonado, esquecido e maltratado pelo tempo.
A chuva havia cessado, ficava apenas o ar úmido e gélido em volta. Ao descer do ônibus esquecera sua bolsa, foi logo falar com a enfermeira, que estava ainda sonolenta. Explicou toda sua situação a ela e a enfermeira que não demonstrava nenhuma expressão em seu rosto, disse lhe para esperar em uma sala por um momento que ela iria ajudá-la a resolver seu problema. A enfermeira volta com dois homens todos de branco, os homens se aproximam e começam a segurar a moça, dizendo que tudo acabará bem, que ela não precisa se preocupar. A mulher muito assustada diz para solta-la e começa a se debater e gritar, a enfermeira demonstrando uma impaciência diz para os homens trancá-la logo em seu quarto, pois estava muito cansada e não agüentava mais ouvir história de loucos.
Jogada a forças em um quarto todo branco, com uma porta de ferro que tinha uma janelinha bem pequena de vidro, uma cama, chinelos brancos, criado mudo vazio e uma pia e uma privada que exalava um odor detestável. A mulher gritava, dizia que tinham se enganado, ela estava ali para pedir ajuda, que a soltassem imediatamente.
Passou horas gritando, até que exausta cair no chão e começou a chorar. Cansada, e transtornada em meio aos prantos adormeceu. Quando acordou estava na cama, com as roupas trocadas, calça e blusa branca, a porta estava aberta e logo ela tenta sair correndo para fora do quarto. Mas ao colocar se de pé, dois passos dados, caiu no chão, sua visão ficou turva, sua cabeça ficou tonta, suas pernas estavam moles. Parecia que seu corpo havia amortecido por inteiro, imaginou que enquanto adormecia deveriam ter lhe dado algum tipo de medicamento. Então cambaleando, segurando-se as paredes ela sai do quarto. Passa por um amplo corredor todo bege, as corres claras pareciam fazer seus olhos arderem. O corredor dava a uma sala, havia um número pequeno mulheres ali, algumas entorpecidas, uma gorda de cabelo crespo e curto gritando, uma mulher magra e loira cantando, outras encolhidas, outra segurando uma boneca e uma moça fumando sentada em frente à TV de boa aparência. Mas nenhum enfermeiro ou alguém que supostamente poderia a ajudá-la a sair dali.


Ao entrar na sala a moça que estava fumando, que se chamava Aline, logo se colocou de pé, virou-se para a mulher e disse que estava morrendo de saudade, chamando-a de Helena, deu um pulo e foi até o encontro dela e a abraçou muito forte. Perguntou onde ela tinha ido dessa vez, e se havia encontrado o circo.
A mulher realmente se chamava Helena. Mas não sabia o  que aquela mulher doida estava falando, a empurrou para longe de si dizendo que não a conhecia e para não se aproximar dela. Aline sem entender a olhou da cabeça aos pés e disse a Helena que dessa vez o chá que ela havia tomado era dos bons mesmo e caiu na gargalhada, fazendo com que todas as mulheres ali presentes gargalhassem junto com ela.
Helena começou a voltar para o quarto já que estava apavorada, perguntando com havia se metido naquilo, mas Aline sai correndo, abraçando-a por trás dizendo num tom de voz ameaçador sussurrando em seu ouvido. “E você acha mesmo que vai sair assim? E volta sem ser punida Helena? Acha mesmo que vou permitir? Você me deixou aqui para apodrecer com esses vermes e baratas, nós havíamos prometido ir juntas e você deixou que me pegassem Helena! Sabe o que eles fizeram comigo? Choque Helena, Choque! Choque! Choque na minha cabeça!” Ao fim Aline gritava a palavra choque soltando se de Helena e pondo se a frente dela batendo sua mão na cabeça. Helena começou a gritar que não a conhecia que queria ficar em paz, para não tocar mais nela, tentava se esquivar de Aline que ficava a sua frente impedindo-a que voltasse para o quarto sussurrando com um riso de canto de boca bem malicioso “ah conheci sim Helena, você me conheci melhor que seus sonhos, melhor que a si própria, melhor que tua própria sombra!”. Até que Aline a deixa entrar no quarto.
Helena estava muito transtornada, estressada, desesperada sem entender nada. Ao voltar para o quarto percebe que tem uma abertura na parede perto da cama, onde havia um prato de refeição, de aspecto viscoso e amarelado. Mas ela estava faminta, quase passando mal de tanta fome. Decide-se comer, para que recuperasse as força e pensasse em como sair dali.
Quando estava terminando de comer, Aline para na porta e diz a Helena: “você voltou idiota mesmo  Helena, que droga te deram dessa vez? Por que você comeu essa merda? Está cheia de remédio, daqui a alguns minutos você vai ta doidona mulher!” E começa a gargalhar aproximando de Helena e sentando se na cama ao lado dela.
Helena para de comer o restante da comida, mas já era tarde, sentia sua perna amortecer, as pontas dos dedos formigando e sua cabeça parecia flutuar. Aline olhou pra ela, colocou a ponta de seu dedo no nariz de Helena e disse: “Para de acreditar no mundo lá fora, nós nunca vamos conseguir sair daqui, eles sempre nos acham, você vai morrer aqui, todos nós vamos. Ou você acha que o mundo lá fora não teria notado com o que fazem com a gente aqui dentro? Helena, daqui a alguns meses não restaram mais nenhuma de nós, a cada dia tem menos uma aqui dentro, então para de dar bobeira!”
Helena olha pra mulher e disse gritando: “Aline eu não te conheço, some de perto de mim, eu estou aqui por engano, foi um equivoco um desastre, some!”. Aline Sorri, chega com o rosto bem perto de Helena e diz: “ não me conhece Helena? Tem certeza? Por que eu não lhe disse meu nome...”.
Helena fica confusa, percebe-se que é verdade, e olha para sua mão, e vê que não tem sinal de aliança, começa a tentar a se lembrar como chegara ali, mas as lembranças começam a falhar, e memórias novas começam a chegar a sua mente, lembranças dela fugindo do ônibus, e que ela sempre esteve dentro do ônibus. E ela grita sem parar, grita até que Aline da um “ chacoalhão”  em Helena e diz: “ Agora amiga, eu sei que você voltou, precisamos fazer isso juntas, temos que encontrar o circo, vamos dar o fora daqui juntas, porque você sabe que sozinha você não é ninguém. O mundo lá fora te deixa meio doida ás vezes Helena.”
Nesse momento Helena paralisa seu olhar, e com uma expressão apática Diz: “ Aline, faça suas malas, Porque eu descobri onde o circo está, mas antes precisamos ir buscar o carro que está parado numa rua longe daqui atolado!”.




- Th.Machuca

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